quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Da legitimidade democrática

 

A coligação PSD-CDS-PPM venceu as eleições autárquicas com maioria absoluta. Foi a escolha dos meus concidadãos, tão respeitável como qualquer outra.

Menos respeitável (ou até digna) parece-me ser a postura do actual Presidente da Câmara, Ricardo Rio, pela forma como fez uso do poder que os bracarenses lhe confiaram. O dr. Ricardo Rio, não querendo ser "hipócrita" (ver notícia aqui) deixou PS e CDU sem pelouros. Foi mais um poder que os meus concidadãos lhe deixaram nas mãos, mas dr. Ricardo Rio, deixe-me que lhe pergunte:

- Os bracarenses são todos iguais ou há bracarenses de primeira e de segunda?
- O voto de uns vale mais do que o dos outros?
- Aqueles bracarenses que se revêem noutros projectos para a cidade e que por acaso conseguiram que os representantes desses mesmos projectos entrassem na vereação, têm menos direito a (tentar) vê-los em prática?

Dr. Ricardo Rio, hipocrisia não é convidar os legítimos representantes dos eleitores bracarenses a assumir pelouros - isso dar-lhe-ia uma legitimidade democrática respeitabilíssima num cenário de maioria absoluta. Hipocrisia é fazer de conta que respeita todos os bracarenses para depois virar as costas a quem não defende as suas cores.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Com padres destes até eu ia à missa



"É preferível que um jovem seja prejudicado um dia pela greve do que todos os dias por um sistema público de educação que é um remendo e uma insensatez em muitas coisas”

D. Januário Torgal Ferreira, a propósito da greve dos professores.

Leia mais aqui.
Fotografia: Daniel Rocha

domingo, 19 de maio de 2013

Co-adopção: o primeiro de muitos passos


A primeira palavra que me ocorreu para caracterizar este projecto de lei foi incipiente. Trata-se, afinal, de regulamentar uma situação existente, ao invés de reconhecer os direitos cívicos que deveriam ser de todos os cidadãos.

Uma abordagem mais racional obriga-me, no entanto, a reconhecer que de outro modo talvez não se conseguisse nada. Tem de ser aos poucos, não é verdade?

Tiro, portanto, o chapéu à persistência de Isabel Moreira, e acredito que a deputada "rebelde" ainda possa ter mais cartas na manga.

Gostaria, também, que certas esquerdas deixassem de fazer disto um problema (sim, eu sei que votaram a favor, mas foi só porque não estava em causa uma mudança a sério) e se deixassem de ideias peregrinas acerca de debates na sociedade sobre assuntos onde não cabe nenhum debate. É de igualdade de direitos que estamos a falar, e esses não são de esquerda nem de direita. Deixem-se de atavismos.

No limite, até é de direitos das crianças que estamos a falar. Não há catrefadas de crianças institucionalizadas? Então por que é que se nega à partida a possibilidade de adopção a uma fracção da população, sem sequer escrutinar essas pessoas? Sim, porque quem se candidata a adoptar é necessariamente escrutinado, enquanto que quem decide ter um filho pelos métodos tradicionais (quando decide) não tem uma comissão de avaliação de capacidades parentais à porta.

Deixem ser pais a quem o deseja e ainda por cima tem de provar que é capaz.

terça-feira, 5 de março de 2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A linha do Vouga


A ferrovia mexe comigo. Há qualquer coisa num par de carris a atravessar um monte, uma povoação ou uma estrada que me enche as medidas, por assim dizer. Há também o facto de ter familiares (um deles já cá não está) a trabalhar na CP. Há qualquer coisa de bucólico e de melancólico em tudo isto.

Ainda não conhecia a linha do Vouga. Passei a conhecê-la numa visita de trabalho a São João da Madeira. Fiquei também a conhecer o desapego pela ferrovia fora do eixo Braga-Faro (já tinha ouvido falar dele, mas vê-lo é outra coisa). Os apeadeiros, como este, parecem parados no tempo. Em São João da Madeira a bilheteira abre uma vez por mês para renovação de assinaturas, mas aquela não parecia ter uso há muito tempo. O relógio, parado. Só a instalação solar fotovoltaica demonstrava que alguém deste tempo tinha lá estado.

Quanto ao comboio propriamente dito, palavras para quê?




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Voos da CIA: afinal era verdade

Acabou o tabu: os voos da CIA passaram mesmo por Portugal. Ana Gomes e todos os que levantaram suspeitas estavam certos. A informação foi revelada pelo relatório "Globalizing Torture", da Open Society Justice Initiative, que identifica os 54 países envolvidos no programa secreto de detenção e transferência de passageiros da Administração Bush. Em Portugal, houve mais de 100 escalas, onde se incluem voos com prisioneiros de e para Guantánamo.

Entre as 136 pessoas submetidas a tortura encontra-se Ibn al-Shaykh al-Libi, um operacional da Al-Qaeda líbio cujo interrogatório, conduzido com métodos coercivos, levou a uma informação de, digamos, inestimável valor: a disponibilização, por parte de Saddam Hussein, de armas químicas e biológicas aos militares da Al-Qaeda. A falsidade da confissão foi admitida pelo prisioneiro. A consequência é por demais conhecida. Parece que só falta mesmo a punição de quem permitiu uma e outra.

Nota: A "revelação", em primeira mão, sobre as armas de destruição maciça, veio de Rafid-al-Janabi, um mentiroso compulsivo que terá assistido à produção das ditas mas que, afinal, era só taxista (ler Visão nº 1045)

Imagem: www.uclouvain.be

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

No PÚBLICO de hoje... Ainda há esperança?

 

Quando Cristo foi crucificado por volta do ano 30/32 da nossa era, o Império Romano ocupava uma vasta área que abrangia desde a Ásia Menor até à Península Ibérica, incluindo a maior parte da Europa e todo o Norte de África. Com o correr dos tempos, e devido à inevitável vitalidade que as línguas têm como coisas vivas que são, o latim popular falado na Dácia acabou por se transformar no actual romeno, tal como o falado na Itália no actual italiano, na Gália no actual francês, na Hispânia no catalão, castelhano, galaico-português, etc., etc.
Durante algum tempo o latim da Roma originária manteve uma aparência de identidade sustentada, sobretudo desde que a Igreja o adoptou como língua eclesiástica e litúrgica antes do início da Alta Idade Média; mas mesmo esse foi sofrendo alterações ao ponto de um estudioso de latim clássico ter dificuldade em entender um texto em latim eclesiástico do século XII ou XIII, por exemplo.
Imaginemos que um folgazão dessas eras, insuflado de ideias “ortografistas”, se lembrava de tentar impor ao latim de Roma uma “grafia unificada” misturando, com as inerentes “facultatividades”, as formas do latim popular gaulês, dácio, lusitano, itálico… Só esta ideia tonta dá vontade de rir, e obviamente nenhum estudioso no seu juízo perfeito a consideraria, a menos que se tratasse de um escritor de ficção científica que inventasse uma novela de “história alternativa” passada num universo paralelo, onde esse caricato fenómeno tivesse ocorrido com todas as suas delirantes (e quiçá interessantíssimas) consequências.
Bom, tudo é possível no fantástico universo das ficções, e tal fantasia até poderia dar origem a um trepidante filme em 3-D com imaginosos efeitos especiais e outros truques que encantassem as plateias.

Ora, por muito estranho que pareça, é isso mesmo que estamos a viver actualmente: um delírio de “ficção científica alternativa”, por obra de uns quantos políticos que decidiram reescrever a nossa história linguística sem atender às naturais e progressivas diferenças por que vai passando uma língua-mãe ao expandir-se no mundo, e à medida que os anos e os séculos transcorrem.
Não é possível espartilhar uma língua viva num colete de forças artificial e grosseiramente político fingindo que a língua-mãe e as línguas-filhas se vão manter sempre iguais e agrilhoadas a um mesmo “acordo”, parido por um pequeno grupo de minicérebros demenciais que não entendem o que é o futuro e, dentro da sua pequenês, só vêem uma estreita nesga do presente.
Tal como o latim irradiou de Roma para o mundo, o português irradiou de um ponto preciso da Europa, Portugal, e, à semelhança do latim do Império Romano, foi-se instalando em diversas geografias e mesclando-se com as respectivas etnias, línguas aborígenes e culturas, e por conseguinte modificando-se diversamente, consoante as áreas em contacto. É uma lei natural e não há que fugir-lhe.